sábado, 15 de novembro de 2014

A viagem espacial de José Cid


    Quando nos falam em José Cid, a primeira coisa que nos vem à cabeça são músicas sobre macacos, bananas ou sobre aquela cabana junto à praia. E quando nos dizem que o José Cid tem um dos melhores álbuns de rock progressivo do mundo, não queremos acreditar.
     Mas é verdade. Estávamos em maio de 1978 quando 10000 Anos Depois Entre Vénus E Marte foi lançado. O álbum foi quase ignorado nesse período, muito por consequência da força que o punk ganhava nessa altura e que o prog rock ia perdendo.
     A produção do álbum começou quando José Cid se decidiu juntar a Mike Sergeant, Zé Nabo e Ramón Galarza para gravar um disco que apresenta evidentes influências dos Pink Floyd e dos Moody Blues. Em 10000 Anos conseguimos ouvir um desfile de instrumentos de teclas. Cid tocava vários teclados, dos quais se destaca o Mellotron, que conferia ao álbum um som espacial e intenso, juntamente com um belo som de guitarra. Era uma coisa nunca antes ouvida em Portugal.
     Todas as oito faixas do álbum contam uma história: um homem e uma mulher conseguem fugir do planeta Terra, depois de este se auto-destruir, e encontram um novo planeta para viver. Dez mil anos depois, regressam à Terra com o objetivo de a repovoar.


     Ignorado em território nacional, levou o músico a lançar-se noutros caminhos mais acarinhados pelo povo português. Porém, em 1994, despertou o interesse de uma editora norte-americana - Art Sublime -, que propôs reeditar o álbum e incluir ainda Vida (Sons Do Quotidiano) como faixa-bonús.
     Só a partir do ano de 2000 é que o disco ganha uma maior notoriedade, com a descoberta do mesmo por parte de fãs de novas gerações e de vários músicos, que apreciavam este registo musical.
     A reação da imprensa também ajudou à propaganda deste trabalho, com revistas como a Q e a Billboard a avaliarem-no como um dos melhores cem discos de prog rock do mundo e de todos os tempos.
     Como o álbum teve um número limitado de cópias, torna-se muito difícil encontrá-lo à venda e, em sites de compras online, como o e-Bay, chega a atingir valores superiores a cem euros.
     Inúmeras bandas tomam o 10000 Anos como referência, como é o caso dos Capitão Fausto, que até possuem uma música chamada ZéCid, em homenagem ao próprio. 
     Apesar de só ter alcançado o reconhecimento merecido muitos anos mais tarde, o trabalho de José Cid ganha fãs nos quatro cantos do mundo a cada dia que passa, encantados com o música de um álbum que, mesmo tendo sido gravado há mais de trinta anos, é dotado de uma qualidade que o torna intemporal. 


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